Daily Archives: Novembro 22, 2012

A Igreja de Santo Ildefonso

4. O espólio ornamental e iconográfico da igreja de Santo Ildefonso

Retábulo-mor (1745-1751)

Projecto: Nicolau Nasoni

Entalhador: Miguel Francisco da Silva

Dourador: António José Correia

A mais relevante e valorosa obra artística da Igreja de Santo Ildefonso foi acordada entre a Confraria do Senhor Jesus e Santíssimo Sacramento e o entalhador lisboeta Miguel Francisco da Silva no dia 11 de Julho de 1745.  A sua importância justifica que aqui se recupere sinteticamente o famoso contrato no qual o referido artista se compromete a fazer de novo o retabullo da capella mor e sanefas das coatro portas e duas varandas e sanefas das duas portas de sima, tudo da dita capella mor desta igreja, sendo que terá que realizar a dita obra toda de talha, conforme as plantas de Nicoláo Nasoni. O trabalho importará 1.100.000 réis e será revista pello dito Niculáo Nasoni, com o coal o dito mestre concordará com o que for preciso para que fique prefeita e bem feita. Miguel Francisco da Silva receberá duas plantas da obra e compromete-se a concluir os trabalhos até à festa do Espírito Santo do ano de 1746.

A 21 de Março de 1751 celebrava-se contrato para o douramento da tribuna e toda a mais obra de talha da capela-mor. Pela quantia de 825.000 réis, e tendo como prazo final da conclusão da obra o mês de Outubro do dito ano, os mestres douradores e pintores António José Correia e Pedro da Silva Lisboa contratavam-se com a confraria para dourar a tribuna e toda a mais talha da cappella mor. Mais se comprometiam a ir dourando toda a talha que se acha na ditta cappella do arco para dentro e a sanefa nova que se há-de fazer no dito arco e da parte de fora delle; e como o retabullo e tribuna he em partes vazado se obrigão elles ditos mestres a dourar tudo aquillo que se vir pello pée do altar pellas vazaduras e necessitar de ser dourado. Há assim que fazer e dourar ainda a sanefa original do arco cruzeiro da capela-mor.

Reforma «rocaille» do retábulo-mor  (1783-1785)

Projecto: Joaquim Teixeira Guimarães

Dourador: Domingos Francisco

No último quartel de Setecentos, o retábulo-mor riscado por Nicolau Nasoni irá sofrer uma importante modificação, segundo consta do termo em que se determinou fazer o comcerto da Tribuna da Capela Mor comforme, o risco, planta que para isso fes e aprezentou a R. Doutor Joaquim Teixeira. Em acta de 20 de Julho de 1783, os confrades determinarão fazerse o concerto da tribuna da capella mor, rimontando todo o retabello, e polo comforme o risco e planta, fazendo de novo todo o camarim e trono, com as banquetas necesarias cajxião da boca do camarim, tudo de boa madeira, e talha moderna com a milhor perfeição darte.  Localiza-se assim a reforma de toda a parte central da tribuna do retábulo-mor, trono e camarim que, com outros lavores, custou 450.000 réis.  Pelo mês de Março de 1785 a obra de talha estaria concluída pois era proposto ser muito precizo dourarse o trono, bem como fazerse hum pano para a boca do mesmo trono, isto é, um tela pintada. Por 350.000 réis, o mestre Domingos Francisco foi contratado para o douramento e o pano pintado ficará a cargo do irmão Domingos Teixeira Barreto.

O dado histórico-artístico mais relevante da fábrica dos anos 80 é a revelação de que o verdadeiro introdutor do vocabulário rocaille do retábulo-mor de Santo Ildefonso foi o arquitecto e entalhador padre Joaquim Teixeira Guimarães. Esta informação, até agora inédita, vem invalidar a tradição historiográfica de atribuir o projecto integralmente a Nasoni.

Altares Laterais

 O primitivo templo ildefonsino apenas contava com um altar no corpo da nave, o altar do Senhor Jesus. Com a edificação da actual igreja e até ao século XX existiam quatro altares de devoção no perlongo da nave. Segundo as memórias paroquiais de 1758 eram inicialmente dedicados a Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Guadalupe e São Gonçalo.

A primeira grande modificação surge em 1809 quando o altar de Nossa Senhora de Guadalupe recebe um novo patrono, com a colocação da imagem de Nossa Senhora da Soledade – juntamente com a de Cristo Morto – na referida estrutura retabular. Uma nova devoção surge no lado oposto da nave da igreja no ano de 1812, aquando da colocação da imagem do Senhor Jesus no altar de São Gonçalo. A partir desta data os inventários da Confraria do Senhor Jesus e Santíssimo Sacramento passam a identificá-lo como a altar do Senhor Jesus, recuperando a particular e antiquíssima devoção. Assim sendo, durante mais de uma centúria a igreja ildefonsina fixou iconograficamente as seguintes devoções: ao Evangelho, Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Soledade e à Epístola, Nossa Senhora da Conceição e Senhor Jesus.

Foi o padre Adriano Moreira Martins que promoveu durante o século XX a remodelação dos patronos dos altares ao longo da nave mantendo-se, todavia, os dois mais próximos da capela-mor com a invocação que tinham desde a fundação do novo templo: Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Conceição. No ano de 1921 o altar de Jesus passa a ter uma devoção mais específica quando aí é colocada a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

A primeira referência documental aos actuais seis altares e respectivas estruturas retabulares surge apenas no inventário de 1949 onde se enumeram o SS. Sacramento (trata-se, como é evidente, do altar-mor), Sª da Piedade, Senhor Jesus, Sª de Fátima, Santa Filomena e Coração de Jesus. Ora, tratando-se de um inventário produzido pela Confraria do Senhor Jesus e Santíssimo Sacramento, foi como sempre omitido o altar pertencente à Confraria de Nossa Senhora da Conceição.

Por último, no tempo do pároco Joaquim Nunes Pereira de Faria e Sousa (1967-1995) o altar de Santa Filomena dará lugar às devoção de São Francisco Xavier, fixando-se assim a actual disposição iconográfica-devocional das estruturas retabulares da nave ildefonsina.

carlos ruão roteiro histórico-artístico da igreja de santo ildefonso do porto 2012 (no prelo)

nota: todas as semanas se publicará um capítulo deste texto inédito.